Capítulo Cinco
O parto
Duas horas depois, quando avisamos nossa família, subimos para o quarto e, posso confessar? Fiz todo o trajeto de olhos fechados. Me levaram na maca, e eu não queria, em nenhum momento, me lembrar daquele “teto” ou guardar memórias das paredes daquele hospital.
Optamos pelo parto normal, para que eu não tivesse cicatrizes na pele além da cicatriz da alma. O médico e a psicóloga disseram que seria o mais saudável. Eu e o meu marido oramos o tempo todo, sem abandonar ou questionar em nenhum momento os planos de Deus.
Quando ficamos sozinhos, enquanto eu dilatava o máximo possível para o parto, fizemos um acordo: não veríamos nosso Levi sem vida. Eu não teria estruturas para segurar meu filho assim. Poderíamos nos arrepender? Sim. Mas naquele momento, aquilo fez sentido para nós dois, porque o nosso Levi já estava com Deus. O que ficou foi apenas o corpinho.
Senti todas as dores do parto, até dilatar ao máximo.
Chegando à sala de parto, eu realizei o meu sonho sem realizar. A pior coisa do mundo foi ver o meu marido com aquela roupa de hospital. Falávamos tanto desse momento, sonhávamos com ele cortando o cordão… Meu Deus, como dói lembrar disso.
Como contei no início deste livro, eu tinha crises de pânico e ansiedade antes de engravidar, e, depois de quase dois anos sem crises, comecei a ter uma durante o parto. Eu não conseguia parar de tremer, me faltou ar, e eu gritava tanto que acredito que o hospital inteiro ouviu o meu choro de dor. Mas não era dor física, era uma dor na alma.
Me deram duas medicações para a ansiedade, e eu fiquei praticamente desmaiada. Quando acordei, Levi já não estava dentro da minha barriga. Acordei com o choro do pai dele, do lado esquerdo da cama. O som vinha dali. Ainda meio fora de mim, olhei para o Thiago e voltei a dormir
O parto durou exatamente cinco horas.
Quando a medicação começou a passar, ouvi um choro de bebê. Mesmo ainda meio inconsciente, pensei: “Meu deus, eu estava sonhando.” Mas, ao abrir os olhos, percebi que tudo era verdade. Eu havia escutado o choro de outro bebê que acabara de nascer na sala ao lado. Mas você já não estava mais comigo.
O Thiago foi o homem mais forte que eu já conheci. Ele passou o parto todo segurando minha mão e, quando olhei para ele, ainda estava em estado de choque, apertando minha mão com tanta força.
Quando saímos da sala do parto, fomos para o quarto. Confesso que as visitas no hospital, onde eu sonhava com as lembrancinhas de maternidade, não foram nada daquilo que imaginei. Cheguei no quarto “branco”, sem enfeite de porta, sem lembranças, sem sorrisos.
Nossa família estava toda lá, mas todos com olhares de tristeza.
Meus pais moram em Goiânia, e como o parto foi na cidade em que moramos, em São Paulo eles só conseguiram chegar algumas horas depois do parto. Confesso que não sei o que doía mais — se era o pós-parto, o leite querendo vir ou a dor na alma. Foram momentos tão dolorosos que acabei apagando alguns da memória. Não me lembro como foi a saída do parto para o quarto.
Recebemos muitos amigos da igreja, muitas orações..., mas, naquele momento, nada fazia sentido.
Naquela noite, eu dormi, mas não dormi. Então, eu escrevi para o meu filho.