Capítulo Seis
A primeira carta para o Levi
Dia 29/01/2024 – às 23:22
Carta para o meu anjo Levi:
Seu coraçãozinho parou de bater neste domingo, e parte do meu também. Você não sabe o quanto eu e o papai orávamos por você todas as noites.
As pessoas sempre dizem: “Cuidar de bebê é difícil, chora muito, tem que trocar fralda, amamentar de 3 em 3 horas”. Mas sabe o que é realmente difícil? É ter que fazer um parto e não ouvir nenhum choro. É saber que eu nunca vou descobrir se seu nariz era do papai ou da mamãe, se você era mesmo careca ou não. E saber que você nunca vai vir para o meu colo, e eu nunca vou saber qual seu cheirinho. Nunca vou ver seu primeiro dente, nunca vou te levar à escola…
O que doi mais que o parto? É ter leite para te amamentar e precisar tomar remédio para secar esse leite, porque eu nunca vou te dar um tetê.
No domingo, falei para os seus irmãozinhos que voltaríamos hoje, mas você ficou na maternidade. Eu não sei qual é o propósito de Deus para isso, mas sei que Ele conhece a minha dor, porque Ele também perdeu o filho d’Ele para salvar todos nós.
Levi, meu filho, você mudou a minha vida. E os melhores meses da minha vida foram os nove meses que você ficou dentro da minha barriga. Eu te amo, para sempre.
Da sua mamãe, Karine.
Curtam seus filhos. Parem de reclamar dos brinquedos espalhados pela casa, das birras. Porque isso era tudo o que eu mais queria poder viver.
E, quando você acha que não tem como ficar pior, vem toda a burocracia de enterro, reconhecimento de corpo, biópsia, IML... E confesso a vocês: não fizemos nada. Nossos pais fizeram absolutamente tudo. Eu e o Thiago entramos em um estado de choque. Não conseguimos nos desgrudar. Era um mix de sentimentos, tanto que até para ir ao banheiro, íamos juntos.
Estávamos com medo. Medo de tudo... Medo de voltar para casa, medo do que viveríamos dali para frente, um medo que nunca senti antes.
Acho que umas das piores sensações que já vivi foi a saída do hospital. A caminhada do quarto até a recepção, passando por todas aquelas famílias felizes com seus enfeites de maternidade, muitos sorrisos e choros de bebê. Confesso que, naquela caminhada, achei que nunca mais iria me recuperar desse trauma. Entrar grávida e sair sem meu bebê foi a única coisa que nunca passou pela minha cabeça.