Capítulo Oito
Casa
Assim que chegamos em casa e nossa família já tinha retirado algumas coisas visíveis de bebê, como a cadeirinha, do carrinho, o berço que estava ao lado da minha cama. Tudo foi colocado dentro do quartinho dele, e fecharam a porta. Ao descer do carro, senti um sentimento que nunca havia experimentado: vergonha de chegar em casa.
Perder um bebê é uma experiência incrivelmente dolorosa e emocionalmente desafiadora, e todos os sentimentos que surgem são válidos e legítimos. Recebi mensagens de amigas e seguidoras que também passaram por isso e sentiram o mesmo. Então, caso você tenha vivido algo assim, quero te dizer: a vergonha é uma emoção complexa, que pode aparecer em momentos de dor e sofrimento. Mas é importante lembrar que você não fez nada de errado. A perda de um bebê não é culpa sua, e não há razão para se culpar ou se envergonhar.
Permita-se sentir e processar suas emoções. É essencial encontrar apoio e compreensão durante este período difícil. Busque pessoas em quem confia — amigos, familiares, ou até um profissional de saúde mental. Compartilhar sua experiência pode aliviar o peso emocional que está carregando e permitir que você inicie o processo de cura.
Nos primeiros dias em casa, uma das coisas que mais nos ajudou foi evitar tentar entender o que aconteceu. Procurar explicações apenas geraria mais ansiedade e desgaste. Sabíamos que os exames demorariam cerca de 40 dias para sair, e a biópsia também. Nossos exames só poderiam ser feitos após 45 dias do parto, e depois disso, seriam mais 20 dias até os resultados. Ou seja, viveríamos quase dois meses criando teorias que só nos fariam mal. Então, decidimos entregar tudo nas mãos de Deus e confiar, até os resultados chegarem.
Na primeira noite, algo que nunca fiz, mas que senti uma necessidade profunda de fazer, foi buscar uma resposta de Deus. Precisava entender por que Ele permitiria isso acontecesse comigo. Já não bastava tudo que eu havia passado na infância? Já não era suficiente ter enfrentado depressão? E agora, na minha chance de construir uma família, o medo me consumia novamente.
Ajoelhei-me com a bíblia nas mãos e falei em voz alta:
“Deus, não me deixe cair. Não se cale diante disso. Me diga se há um propósito em tudo isso? Como vou falar para as pessoas que o Senhor é um Deus de amor se você levou o meu filho? Como vou dizer que o Senhor é um Deus de milagres se não trouxe meu filho de volta à vida?”
Chorando, supliquei para que Ele falasse comigo. Abri a Bíblia aleatoriamente em Lucas 5:27.
Em cada cicatriz, existe uma história de superação